quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O obá de Oyó (Sángó)



Òní  Dàda ,   àgò   
Òní  Dàda ,   àgò   
Dàda    sokun 
Dàda    sokun 
Ò  feere  ó    feere,
Ó  bgé   l´orun,
Bàbá  kíní   l´onòn   da 



Báyànni  gìdigìdi , Báyànni  olà.
Báyànni  gidigidi , Báyànni  olà
Báyànni  adé , Báyànni  òwò.
Báyànni  adé , Báyànni  òwò



Obá é também um dos epítetos do Orisá Sangò (não confundir Obá, rei, soberano (oba), com o Orisá Obá (Òbà), que é uma das esposas de Sangò). Segundo a mitologia, Sangò teria sido o quarto rei da cidade de Oyó, que foi o mais poderoso dos impérios yorubás. Depois de sua morte, Sangò foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oyó, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote. Não existem registros históricos da vida de Sangò na Terra, pois os povos africanos tradicionais não conheciam a escrita, mas o conhecimento do passado pode ser buscado nos mitos, transmitidos oralmente de geração a geração. Assim, a mitologia nos conta a história de Sangò, que começa com o surgimento dos povos yorubás e sua primeira capital, Ilê-Ifé, fala da fundação de Oyó e narra os momentos cruciais da vida de Sangò: "Num tempo muito antigo, na África, houve um guerreiro chamado Odúdùá, que vinha de uma cidade do Leste, e que invadiu com seu exército a capital de um povo então chamado Ifé". Quando Odúdùá se tornou seu governante, essa cidade foi chamada Ilê-Ifé. Odúdùá teve um filho chamado Acambi, que teve sete filhos, e seus filhos ou netos foram reis de cidades importantes. A primeira filha deu-lhe um neto que governou Egbá, a segunda foi mãe do Alaqueto, o rei de Ketú, o terceiro filho foi coroado rei da cidade de Benim. O quarto foi Orungã, que veio a ser rei de Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes, o sexto, rei de Popôs, e o sétimo foi Oraniã, que foi rei da cidade Oyó, mais tarde governada por Sangò.

Dinastia
Com o nascimento destes dois filhos inicia-se a dinastia dos Òyó a saber:
OKAMBI - 1º ALÁÀFIN ÒYÓ - 1700 à 1600 a . C aproximadamente;
ÒRÀNMÍYÀN - 2º ALÁÀFIN ÒYÓ - 1600 à 1500 a . C. ;
ÀJÀKÁ - 3º ALÁÀFIN ÒYÓ - 1500 à 1450 a . C. ;
SÒNGÓ - 4º ALÁÀFIN ÒYÓ - 1450 à 1403 a. C. ;
ÀJÀKÁ - 5º ALÁÀFIN ÒYÓ - 1403 à 1370 a. C. ;
AGANJÚ - 6º
YAYUN - 7º
KORI - 8º - construiu as cidades de Ede e Òsogbo;
OLUASO - 9º
ONÌGBOGI - 10º - organizou a cavalaria em Òyó;
AFIRON - 11º
EGUOJU - 12º
OROMPOTO - 13º
AJIBOYEDE - 14º
ABIPA - 15º - reconstruiu Òyó;
OBALOKUN - 16º - introduziu o uso do sal
AJAGBO - 17º
ODARAWU - 18º
KANRAN - 19º
JAYIN - 20º
ESPAÇO DE TEMPO HISTÓRICO ENTRE 50 E 300 ANOS;
AYIBI - 21º

Todos pagavam tributos e homenagens a Odúdùá, quando Odúdùá morreu, os príncipes fizeram à partilha dos seus domínios, e Acambi ficou como regente do reino de Odúdùá até sua morte, embora nunca tenha sido coroado rei. Com a morte de Acambi, foi feito rei Oraniã, o mais jovem dos príncipes do império, que tinha se tornado um homem rico e poderoso. O obá Oraniã foi um grande conquistador e consolidou o poderio de sua cidade. "Um dia Oraniã levou seus exércitos para combater um povo que habitava uma região a leste do império". Era uma guerra muito difícil, e o oráculo o aconselhou a ficar acampado com os seus guerreiros num determinado sítio por certo tempo antes de continuar a guerra, pois ali ele haveria de muito prosperar. Assim foi feito e aquele acampamento a leste de Ifé tornou-se uma cidade poderosa. Essa próspera povoação foi chamada cidade de Oyó e veio a ser a grande capital do império fundado por Odúdùá. O rei de Oyó tinha por título Alafim, termo que quer dizer o Senhor do Palácio de Oyó. "Com a morte de Oraniã, seu filho Ajacá foi coroado terceiro Alafim de Oyó". Ajacá, que tinha o apelido de Dadá, por ter nascido com o cabelo comprido e encaracolado, era um homem pacato e sensível, com pouca habilidade para a guerra e nenhum tino para governar. Dadá-Ajacá tinha um irmão que fora criado na terra dos nupes, também chamados tapas, um povo vizinho dos yorubás. Era filho de Oraniã com a princesa Iamassê, embora haja quem diga que a mãe dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupes. Esse filho de Oraniã tinha o nome Sangò, e era o grande guerreiro que governava Koso, pequena cidade localizada nas cercanias da capital Oyó. "Sangò um dia destronou o irmão Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena e distante cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani". "Sangò foi assim coroado o quarto Alafim de Oyó, o obá da capital de todas as grandes cidades yorubás". "Sangò procurava a melhor forma de governar e de aumentar seu prestígio junto ao seu povo". Conta-se que, para fortalecer seu poder, Sangò mandou trazer da terra dos baribas um composto mágico, que acabaria, contudo, sendo sua perdição. O rei Sangò, que depois seria conhecido pelo cognome (cognome quer dizer: terceiro nome pelo qual a pessoa é conhecida) de o Trovão, sempre procurava descobrirem novas armas para com elas conquistar novos territórios. Quando não fazia a guerra, cuidava de seu povo.
 
Sangò então passou a testar diferentes maneiras de usar melhor a nova arte, que certamente exigia perícia e precisão. "Num desses dias, o obá de Oyó subiu a uma elevação, levando a cabacinha mágica, e lá do alto começou a lançar seus assombrosos jatos de fogo". Os disparos incandescentes atingiam a terra chamuscando árvores, incendiando pastagens, fulminando animais. O povo, amedrontado, chamou aquilo de raio. Da fornalha da boca de Sangò, o fogo que jorrava provocava as mais impressionantes explosões. De longe, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam as labaredas expelidas por Sangò. Aquele barulho intenso, aquele estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo chamou de trovão. "Mas, pobre Sangò, a sorte foi-lhe ingrata". Num daqueles exercícios com a nova arma, o obá errou a pontaria e incendiou seu próprio palácio. Do palácio, o fogo se propagou de telhado em telhado, queimando todas as casas da cidade. Em minutos, a orgulhosa cidade de Oyó virou cinza. "Passado o incêndio, os conselheiros do reino se reuniram, e enviou o ministro Gbaca, um dos mais valentes generais do reino, para destituir Sangò". "Gbaca chamou Sangò à luta e o venceu, humilhou Sangò e o expulsou da cidade". Para manter-se digno, Sangò foi obrigado a cometer suicídio. Era esse o costume antigo. Se uma desgraça se abatia sobre o reino, o rei era sempre considerado o culpado. Os ministros lhe tiravam a coroa e o obrigavam a tirar a própria vida. "Cumprindo a sentença imposta pela tradição, Sangò se retirou para a floresta e numa árvore se enforcou". "Oba so!", "Oba so!". "O rei se enforcou!", correu a notícia. "Mas ninguém encontrou seu corpo e logo correu a notícia, alimentada com fervor pelos seus partidários, que Sangò tinha sido transformado num Orisá". O rei tinha ido para o Orún, o céu dos Orisás. Por todas as partes do império os seguidores de Sangò proclamavam: "Oba ko so!", que quer dizer "O rei não se enforcou!". "Oba ko so!", "Oba ko so!" "Desde então, quando soa o trovão e o relâmpago risca o céu, os sacerdotes de Sangò entoam: "O rei não se enforcou"!" "Oba ko so! Obá Kossô!" "O rei não se "enforcou".". Assim narram os mitos, e a morte de Sangò nada mais é do que a afirmação dos antigos costumes africanos. Sua morte teria sido injusta e por isso o Orún o acolheu como imortal. A expressão "Obá Ko so" é evidentemente dúbia. Tanto pode significar "Rei da cidade de Koso", o que de fato Sangò também era como "O rei não se enforcou", frase que poderia ser também traduzida por "O Rei vive", ou "Viva o Rei", forma que é mais comum na nossa tradição ocidental. A versão verdadeira não importa: divinizado, transformado em Orisá, o obá Sangò, o Alafim de Oyó, alcançou a imortalidade, deixou de ser humano, virou deus. "Obá Kossô", "Viva o Rei" é a fórmula pela qual, até hoje, em todos os templos dos Orisás, é glorificado o nome de Sangò, o rei de Oyó, o Orisá do trovão, senhor da justiça. De todos os Orisá que marcam a saga da cidade de Oyó, nenhum foi mais reverenciado que Sangò, mesmo quando Oyó passou a ser apenas um símbolo esfumaçado na memória dos atuais seguidores das religiões dos Orisás espalhados nos mais distantes países da diáspora africana do lado de cá e do lado de lá do oceano. E há muitos elementos para estribar essa afirmação. Sangò no Novo Mundo no seu auge, o império de Oyó englobava as mais importantes cidades do mundo Yoruba, tendo assim o culto a Sangò, que era o Orisá do rei ou obá de Oyó, portanto o Orisá do império, sido difundido por todo o território iorubano, o que não era muito comum, pois cada cidade ou região tinha os seus próprios Orisás tutelares e poucos eram os que recebiam cultos nas mais diversas cidades, como Esú, Ossain e Orunmilá. O fato é que o apogeu da dominação da cidade de Oyó sobre as outras resultou numa grande difusão do culto a Sangò. Durante muito tempo a força militar de Oyó protegeu os yorubás de invasões inimigas e impediu que seu povo fosse caçado e vendido por outros africanos ao tráfico de escravos destinado ao Novo Mundo, como acontecia com outros povos da África. Quando o poderio de Oyó foi destruído no final do século XVIII por seus inimigos, tanto a capital Oyó como as demais cidades do império desmantelado ficaram totalmente desprotegidas, e os povos yorubás se transformaram em caça fácil para o mercado de escravos. Foi nessa época que o Brasil, assim como outros países americanos, passou a receber escravos yorubás em grande quantidade.




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